quinta-feira, 24 de junho de 2010

A Bolsa e os “malas”

Esta eleição presidencial de 2010 deve entrar para a história como sendo a mais vazia e sem discussão de propostas que já se viu. Na falta do que dizer, os militantes de ambos os lados brigam para ver qual dos candidatos tem o diploma de graduação mais falso, quem é mais feio, bobo, chato ou cara-de-melão.

Mas uma coisa que me causa engulhos é quando os militantes da oposição tentam emplacar mentiras deslavadas e golpes sujos. E é de um deles (usado até por gente esclarecida) que vamos tratar aqui: um e-mail corrente que circula por aí, e que já foi reproduzido  e “analisado” por REMATADOS IDIOTAS em seus “cantinhos da credibilidade”estão atribuindo ao atual governo a “invenção” de uma tal “Bolsa Bandido”, onde facínoras encarcerados teriam direito a uma nababesca pensão enquanto estivessem cumprindo pena.

Segundo o e-mail (e os rematados idiotas), qualquer bandido que tivesse posto cinco filhos no mundo (e bandido que é bandido é preto e pôs, no mínimo, cinco bandidinhos pretos no mundo, né?) teria direito a ver sua família sustentada pelo governo com o valor de R$ 798,30 POR FILHO. A prole do pilantra estaria recebendo, então, R$ 3.991,50. Uma beleza, né?

OS FATOS
O Auxílio-Reclusão, marotamente rebatizado de “bolsa-bandido”, está regulamentado (assim como
TODOS os outros benefícios da Previdência Social) pela Lei 8.213, de 24/07/1991, na subseção IX.Muito antes, portanto, do Lula ter sido eleito.

Para ter direito ao benefício, o bandidão deve ter condição de segurado, ou seja, deve ser contribuinte do INSS como empregado ou autônomo, de acordo com as regras estabelecidas. Um pouco maisde boa vontade e um pouco menos de má-fé poderia levar os incautos a perceberem que este benefício foi criado para pessoas comuns, trabalhadores como nós e que, por algum motivo, se envolveram em delitos. Mas os desonestos intelectuais – e os inocentes úteis – querem passar a impressão de que o traficante doMorro da Quizumba (que nunca viu o INSS) vai, quando o BOPE pegá-lo no escadão, garantir à popozuda que ele conheceu no baile funk uma boa grana pra sustentar seus herdeiros. Segundo eles, graças ao Lula, o crime agora compensa em todas as classes sociais.

Mas a sacanagem não para por aí: não se sabe bem por que, mas os iluminados conseguiram “estipular” que o valor do auxílio é devido POR DEPENDENTE, ou seja: cinco dependentes, cinco auxílios-reclusão, muito embora isto não ocorra com NENHUM outro benefício da Previdência (auxílio-doença, acidente ou pensão por morte) e TODOS eles sejam regidos PELA MESMA LEI. E que essa bolada fictícia ULTRAPASSE ATÉ O TETO para pagamento dos benefícios da Previdência Social. Resumindo, é um dos maiores festivais de bobagem já colocados na internet desde o tempo do BBS.
Se os incautos e desonestos intelectuais se dessem ao trabalho de lersó o “perguntas e respostas” sobre o benefício, no site do INSS (a.k.a. Lei for Dummies), sentiriam vergonha de repetir esse tipo de abobrinha. Para os preguiçosos, um trecho:
O auxílio-reclusão é proporcional à quantidade de dependentes?
Não. O valor do benefício é dividido entre todos os dependentes legais do segurado. É como se fosse o cálculo de uma pensão. Não aumenta de acordo com a quantidade de filhos que o preso tenha. O que importa é o valor da contribuição que o segurado fez. O benefício é calculado de acordo com a média dos valores de salário de contribuição.

Sinceramente, muito me entristece o fato da campanha eleitoral ter chegado a tão baixo nível. Uma “informação” como esta, disseminada por aí, não prejudica o Lula ou o PT, PREJUDICA O PAÍS.
Vai aqui um apelo à militância (todos): trabalhe por seu candidato, mas não atrapalhe o Brasil. Quanto pior ficar, pior vai ser pra governar caso ele seja eleito, né? Um boato corre rápido como um raio, mas o desmentido é lento como uma tartaruga. E pode não chegar nunca.
Quem quiser montar um e-mail corrente com isto aqui, fique à vontade. Eu não faço, porque odeio correntes de e-mail e não acredito em nenhuma.

(Post publicado originalmente no Blog Com Fel e Limão e publicado com a permissão de seu autor, Vinícius Duarte).

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